A ciência atual compreende que a maior parte dos adultos que sofrem com sintomatologia psiquiátrica iniciaram seus sintomas na infância ou adolescência. É nessa fase da vida que estruturamos nossa personalidade e desenvolvemos as habilidades necessárias para viver uma vida adulta gratificante e funcional. Por esse motivo, poder passar por essas fases de forma saudável emocionalmente é um facilitador para conquistar autonomia e satisfações futuras.
Alguns sinais mais comuns são indicativos de sofrimento mental ou transtornos do neurodesenvolvimento e podem indicar a busca para avaliação durante esse período da vida. Dentre eles:
Tristeza excessiva ou irritabilidade, perda do prazer em brincar, isolamento social, queda repentina no rendimento escolar, comportamentos auto-lesivos.
Preocupações excessivas, insônia, sintomas físicos como dores de cabeça, dores abdominais e outros sintomas não explicados clinicamente pelo pediatra
Crises de irritabilidade, mudanças repentinas de humor e dificuldade em formar vínculos sociais.
hiperatividade e impulsividade.
Sintomas de oposição às regras.
Na comunicação e padrão de comportamentos e interesses restritos e repetitivos.
Atraso na aquisição de marcos do desenvolvimento.
A psiquiatria da infância é uma área que envolve uma detalhada avaliação da criança, da família e de todo o contexto por onde a criança transita. Por esse motivo, a avaliação psiquiátrica de crianças e adolescentes envolve normalmente mais do que uma consulta, conversas com pais e trocas de informações com escolas e outras instituições importantes na vida do paciente.
Quanto mais jovem a criança, maior a influência do ambiente em seus comportamentos. Por esse motivo, em crianças pré-púberes, costumo realizar primeiramente um atendimento apenas com os cuidadores da criança para entender o motivo da busca por atendimento, compreender aspectos familiares e explorar com detalhes o desenvolvimento desde a gestação até o momento atual. Após esses aspectos serem esclarecidos, agendo um horário exclusivo para conhecer e interagir com a criança.
Quando realizo acompanhamento de adolescentes, costumo realizar a primeira consulta diretamente com o adolescente. O significado dessa conduta envolve fortalecer questões de vínculo, reforçar aspectos de sigilo médico e apropriar o adolescente de seu tratamento. A adolescência é a fase de preparação para vida adulta e a motivação do adolescente para atingir quaisquer objetivos influência de modo determinante nos seus resultados. Quando existem questões traumáticas ou familiares que precisam ser discutidas na ausência do paciente, a realização dessas consultas é feita com a ciência do paciente, para que não se prejudique a confiança e motivação no seu processo terapêutico.
A decisão de medicar uma criança nunca é fácil, deve ser sempre cuidadosa e baseada em uma avaliação detalhada do quadro clínico. Muitos transtornos psiquiátricos possuem um caráter crônico e recidivante, e o tratamento precoce pode impactar significativamente a evolução do quadro, permitindo um desenvolvimento emocional e cognitivo favorável e reduzindo a necessidade de medicação na vida adulta. Assim como em condições médicas como um quadro de asma ou diabetes, onde a intervenção adequada melhora a qualidade de vida e o desenvolvimento, os transtornos psiquiátricos também exigem um manejo adequado para evitar complicações futuras. No entanto, enquanto nesses casos não há questionamentos sobre a realização do tratamento, no campo da psiquiatria ainda existem receios muitas vezes baseados em desinformação.
A maioria das medicações psiquiátricas não causa dependência. Os casos que exigem maior cuidado envolvem os benzodiazepínicos, que são utilizados raramente em crianças e, quando necessários, utilizados sempre de forma limitada, e os psicoestimulantes, indicados para o tratamento do TDAH, que ofertam riscos principalmente quando utilizados de forma imprudente, sem o acompanhamento médico devido. É importante destacar que o TDAH, quando não tratado, aumenta consideravelmente o risco de etilismo e drogadição na vida adulta, enquanto o tratamento adequado, sob acompanhamento psiquiátrico regular, reduz significativamente essa possibilidade. Ou seja, em muitos casos, a medicação não apenas não causa dependência, como pode prevenir o desenvolvimento de transtornos mais graves no futuro.
A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser sempre individualizada, considerando riscos e benefícios. Seu uso deve ser claramente benéfico para o desenvolvimento da criança, a dose da medicação deve ser a mínima dose eficaz e o tratamento deve ser mantido pelo menor tempo necessário. Quando bem conduzido, o uso de medicação pode permitir que a criança aprimore seus potenciais, melhore sua adaptação social e acadêmica e reduza sofrimentos excessivos que limitam seu desenvolvimento. O acompanhamento regular garante que o tratamento seja ajustado conforme necessário, priorizando sempre o bem-estar e a segurança do paciente.
A participação ativa dos pais no tratamento psiquiátrico de crianças e adolescentes é essencial para a compreensão dos sintomas e a implementação de estratégias terapêuticas no cotidiano.
A psicoeducação permite a instrumentalização dos pais, que adquirem conhecimento sobre os sintomas e recursos mais efetivos para lidar com crises emocionais, comportamentais e para o desenvolvimento de uma comunicação mais efetiva, capaz de mitigar conflitos. O apoio familiar é determinante para a manutenção de estratégias terapêuticas fora do consultório, uma vez que os pais estão em constante contato com a criança e podem aplicar as orientações recebidas no dia a dia, promovendo maior estabilidade emocional e o progresso contínuo.
Consultas regulares apenas com os pais são um espaço importante para esclarecer dúvidas, aprofundar a compreensão sobre o desenvolvimento da criança e construir, de forma conjunta, estratégias que promovam avanços no tratamento.
A frequência das consultas psiquiátricas varia conforme o estágio do tratamento. Inicialmente, os atendimentos costumam ser mais frequentes, pois envolvem uma avaliação detalhada do quadro. Durante essa fase, as consultas tem objetivo de compreensão e elaboração de um projeto terapêutico. Em momentos de crises ou quando os sintomas representam maior risco para a criança e seu entorno, a frequência dos atendimentos pode ser aumentada para garantir um suporte adequado.
Conforme o tratamento evolui e os sintomas se estabilizam, as consultas podem ser espaçadas, entrando na fase de manutenção. Nessa etapa, o objetivo é acompanhar a evolução do quadro e reforçar estratégias terapêuticas, garantindo que a criança continue a progredir de forma contínua e segura, sem a necessidade de intervenções tão frequentes.
Transtornos do Neurodesenvolvimento, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos Disruptivos, Transtorno Opositor Desafiador (TOD), Transtorno de Aprendizagem, Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtornos de Tique, Sindrome de Tourette, Depressão, Transtorno Depressivo Maior, Distimia, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno de Ansiedade Social, Transtorno do Pânico, Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT), Transtorno de Adaptação, Transtornos de Personalidade, Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtornos Alimentares, Compulsão Alimentar, Bulimia, Anorexia, Irritabilidade, Impulsividade, Angústia, Insônia, Dificuldades escolares, Atraso no Desenvolvimento Esperado, Instabilidade Emocional, Crises de Raiva, Comportamento Auto-Lesivo e Transtornos Psicóticos.