O ser humano se desenvolve por meio das experiências de vida, e as diversas áreas “PSI” surgiram como resposta à demanda por apoio nesse processo. Ao longo do crescimento, enfrentamos dificuldades e sofrimentos que acompanham a aquisição de habilidades para transformar o mundo ao nosso redor e encontrar satisfação nisso. O sofrimento é inerente à condição humana e pode ser compreendido como funcional para o desenvolvimento.
O desconforto e a dor física, por exemplo, sinalizam a necessidade de cuidado com o corpo. Se contraímos uma infecção viral, os sintomas nos induzem ao repouso, auxiliando o sistema imunológico na recuperação. A ansiedade, por sua vez, pode nos preparar para enfrentar adversidades: sem uma dose de ansiedade ao atravessar uma rua, provavelmente não olharíamos para os lados e correríamos riscos. A raiva pode ser útil para expressarmos descontentamento e promover mudanças necessárias. A tristeza nos ajuda a elaborar perdas, culpas e a consolidar novas possibilidades de crescimento. Assim, todo sentimento humano tem uma função integradora na nossa personalidade.
Muitas vezes, a dificuldade em lidar com situações que despertam sentimentos negativos em excesso leva uma pessoa a buscar um profissional de saúde mental. Em momentos de crise, pode ser difícil compreender os próprios sentimentos e reagir às adversidades da vida. Algumas situações de estresse psíquico podem ser paralisantes, impedindo a ação diante do problema. Outras dificuldades se prolongam por anos e comprometem o desenvolvimento psicoemocional.
Essas diversas abordagens têm como objetivo comum ampliar os recursos psíquicos e emocionais para enfrentar o sofrimento mental e os desafios da vida. No meu trabalho, atuo como médico psiquiatra, psicoterapeuta e analista. Mas qual a diferença entre essas abordagens?
A psiquiatria é uma especialidade médica voltada para o tratamento dos sofrimentos psíquicos. O psiquiatra avalia o paciente de forma individualizada, considerando seu contexto ambiental, cultural e momento de desenvolvimento, além do funcionamento orgânico. O acompanhamento psiquiátrico visa orientar e direcionar o paciente para os cuidados necessários à sua melhora. O tratamento pode envolver mudanças no estilo de vida, suporte multiprofissional e, quando indicado, o uso de medicamentos para reduzir sintomas e possibilitar a retomada da funcionalidade. Com a melhora sintomática, o paciente pode restabelecer o contato com suas experiências de vida e dar continuidade ao seu desenvolvimento.
A formação do psiquiatra inclui seis anos de graduação em medicina e, posteriormente, uma residência de três anos com imersão em atendimentos ambulatoriais e hospitalares. O psiquiatra infantil realiza mais um ano de residência especifica realizando uma imersão nos atendimentos de crianças, adolescentes e suas famílias.
A psicoterapia é uma prática baseada nos conhecimentos da psicologia e pode ser resumida como um tratamento pelo diálogo. Trata-se de uma intervenção clínica focada no sofrimento psíquico, estruturada na relação entre terapeuta e paciente. Meus atendimentos em psicoterapia são guiados por um olhar psicodinâmico, ou seja, pautados em teorias psicanalíticas. A psicoterapia tem frequência mínima semanal, podendo ser mais frequente em casos que demandam o acesso a fenômenos mentais mais primitivos, favorecendo uma maior compreensão de si mesmo, desenvolvimento de recursos intrapessoais e interpessoais e uma melhoria na qualidade de vida.
A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, baseia-se na hipótese do inconsciente e propõe um método específico de investigação e tratamento do psiquismo. A prática psicanalítica se diferencia das demais formas de psicoterapia pelo método da associação livre, pelo papel do analista na escuta e pela importância dada à transferência – ou seja, a repetição, na relação analítica, de sentimentos e experiências passadas que influenciam os relacionamentos do paciente. A escuta psicanalítica não busca fornecer respostas diretas ou soluções imediatas, mas facilitar que o próprio paciente construa novos sentidos para suas experiências e elabore seus conflitos internos.
A formação do psicanalista ocorre por meio de um processo profundo e contínuo, que envolve análise pessoal, discussões clínicas e estudo das teorias psicanalíticas clássicas e contemporâneas. Diferente de uma especialização acadêmica formal, a psicanálise é transmitida pela experiência clínica e pelo engajamento prolongado no próprio processo analítico.
Dessa forma, a psicanálise não se limita ao tratamento de transtornos específicos, mas busca uma ampliação do campo psíquico do paciente, possibilitando mudanças profundas na sua relação consigo mesmo e com os outros.